Orientar para a tomada de decisões

O desenvolvimento vocacional insere-se no desenvolvimento psicológico do indivíduo (Campos, 1989) e ocorre através de interações entre o sujeito e o meio.

É Donald Super, quem introduz o conceito de desenvolvimento vocacional, apoiando-se no princípio de que o indivíduo deve ser ajudado a desenvolver de uma forma integrada, um perfil adequado e consciente de si próprio, e assim prepará-lo para os pontos de tomada de decisão na carreira. Ligado à perspetiva de desenvolvimento vocacional está, portanto, o conceito de carreira que diz respeito à combinação e sequência de papéis desempenhados por uma pessoa ao longo da vida. Desta forma, a escolha de uma profissão passa a ser vista como algo de dinâmico, como resultado de pequenas decisões durante toda a vida do indivíduo e não como uma tomada de decisão única e definitiva que ocorre num determinado momento.

A intervenção no desenvolvimento vocacional deveria, assim, ocorrer ao longo da vida e não se limitar aos momentos que antecedem as escolhas escolares e profissionais para possibilitar a transformação das estruturas e processos psicológicos (Campos e Coimbra, 1991).

Para o presente artigo foram convidados, a dar o seu contributo, colegas de Serviços de Psicologia e Orientação de quatro Agrupamentos/Escolas, do distrito de Viana do Castelo, bons exemplos no que respeita a práticas de exploração vocacional.

“(…) só serão tomadas decisões de carreira seguras se ao longo do crescimento se for contactando com experiências direcionadas à formação de uma personalidade coerente com interesses, ambições, aptidões e competências. Claro que, enquanto psicóloga, dirijo as atividades de orientação escolar e profissional centrada na construção de um “eu coerente”. O grande desafio prende-se com o facto de que este “eu” está inserido numa turma, de uma escola, tem um grupo de amigos e uma família impar e por isso é totalmente diferente de qualquer outra pessoa… O conhecimento das ofertas formativas, das disciplinas, das saídas profissionais são assim o culminar de todo o desenvolvimento integral de cada um dos alunos e aí o trabalho em parceria com toda a comunidade e em especial com as escolas secundárias e profissionais é, sem dúvida, a grande rede de suporte para um trabalho viável e produtivo”.
Sofia Freitas
Psicóloga – EB2,3 da Abelheira

“Um dos aspetos a que dou muita relevância no processo de orientação vocacional é o suporte parental. Neste sentido desafio muitas vezes os alunos que estão a frequentar as sessões de orientação escolar e profissional a envolverem os pais na definição do seu projeto vocacional, isto porque considero que este projeto não é, exclusivamente, individual, mas sim familiar. Assim, interpelo os alunos a recolherem conjuntamente com os pais informação sobre os vários tipos de cursos e profissões, a esclarecerem com os pais conhecimentos sobre o mundo do trabalho e a contactar com a realidade profissional, (…) envolverem os pais no processo de exploração das suas características pessoais, como os seus interesses, as suas capacidades e os seus valores, (…) discutirem com os pais cenários possíveis para o seu futuro e a analisar cuidadosamente os diversos aspetos favoráveis e desfavoráveis implicados na tomada de decisão vocacional. Quanto mais realistas forem os cenários imaginados mais facilmente os alunos conseguirão fazer um planeamento adequado e definir os diferentes passos que terão de empreender para alcançar os objetivos definidos.
Natalina Araújo
Psicóloga – EB2,3/S Monte da Ola e EB2,3/S Carteado Mena

“(…) A nível vocacional, o meu objetivo tem sido o de ajudar os alunos a desenvolverem competências de exploração do self (…); apoiá-los no desenvolvimento de competências de planeamento vocacional; estimular a reflexão para a definição/construção de opções vocacionais a partir da exploração de si e do meio; sensibilizá-los para a necessidade da definição de um projeto de carreira; facilitar o conhecimento acerca das oportunidades disponibilizadas pelo sistema de ensino e facilitar o conhecimento dos aspetos mais importantes relacionados com as profissões e o mundo do trabalho. Nestes últimos anos, tenho verificado um interesse e procura cada vez maiores, por parte dos alunos, pela frequência de cursos profissionais (…) porque habilitam os jovens com uma dupla certificação, são mais práticos e preparam para o exercício de uma profissão logo após a conclusão do 12º ano (…) surgem, assim, como uma alternativa cada vez mais viável (…)”.
Sílvia Raposo
Psicóloga na EBI Castelo de Neiva

“Na consulta vocacional de adolescentes, opto, em geral, por privilegiar atividades de exploração que sejam: desafiantes, significativas e que envolvam ativamente o aluno de modo a que este assuma o papel central neste processo. Como atividades de exploração temos: (a) sessões de grupo – visam desenvolver competências de exploração e decisão vocacional junto dos alunos do 9.º ano e, ainda, sensibilizar e contribuir para que os alunos do 9.º ano ingressem no ensino secundário; (b) consulta psicológica individual – procura promover o desenvolvimento de competências de exploração e decisão vocacional aos alunos que se encontram perto/fora da escolaridade obrigatória e em risco de abandono escolar sem completarem o 9.º ano; (c) visitas de exploração vocacional – pretendem promover o desenvolvimento de competências de exploração vocacional aos alunos que se encontra perto/fora da escolaridade obrigatória e em risco de abandono escolar sem completarem o 9.º ano; (d) realização de uma feira de profissões – escolas secundárias, escolas profissionais, centros de formação profissional - visa, essencialmente, informar os jovens sobre as alternativas de formação escolar e profissional; (e) apoio às matrículas – procuro apoiar o processo junto dos alunos do 9.º ano e dos alunos interessados em Cursos de Educação e Formação”.
Ivone de Lourdes
Psicóloga – EB2,3 António Feijó/Ponte de Lima


BIBLIOGRAFIA
CAMPOS, B.P. (1989). A orientação numa perspetiva de intervenção no desenvolvimento psicológico. In Questões de Políticas Educativas. Porto: Edições Asa.

CAMPOS, B.P. & COIMBRA, J. L. (1991). Consulta Psicológica e Exploração do Investimento Vocacional. Cadernos de Consulta Psicológica, 7, 11-19.

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