SOBRE A REVOLTA DO MAR


Fotografia| Rafael Peixoto

Saímos de casa e a rua tornou-se nossa e os heróis, em cima de chaimites, eram iguais a nós, estavam ali e também eram nossos…

As fábricas, os campos, os barcos pertenceram-nos; homens e mulheres, de rosto queimado pelo sol e pela geada do interior da nossa terra, saíram das aldeias, vieram ver o outro lado do mundo e exclamaram: Olha o mar! e ficaram encantados, porque o mar também lhes pertencia…

Correu um vento novo pelas planícies e pelas serras e mãos calejadas sentaram-se pela primeira vez em bancos de escola e aprenderam a escrever o seu nome em letras grandes e assumidas.

O futuro já tinha chegado e o impossível tinha-se cumprido.
Os vampiros refugiavam-se atrás do nevoeiro e as hienas trabalhavam na sombra….

O amor, esse inventava-se, sem sinais proibidos, descia a avenida de mãos dadas com o sol e até a liberdade tinha atracado no Tejo.
Hoje, as hienas estão aí, os vampiros escondem o céu do nosso país e só o mar mostra a revolta…

Nenhum povo, depois de ter conhecido o sol, pode ficar silenciado por um tempo de chuva! Se somos um país de marinheiros, por que é que estamos a deixar o mar sozinho?!


Memória de um tempo que tem de ser presente por Ana Paula Alexandre.


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